Para qualquer história, existem elementos básicos que, não importa quão improvável ou impossível seja sua ocorrência, são necessários para que a história em si aconteça, ou não haveria história. Em outras palavras, não há "resolução" sem "conflito".
O Princípio Antrópico original
é a observação de que é impossível para qualquer observador inteligente estar em um universo onde não existam as condições para a vida inteligente, porque para o observador inteligente existir, as condições necessárias para a vida inteligente devem existir. Assim, é impossível tirar qualquer conclusão sobre a probabilidade abstrata de estar em um universo onde é possível que a vida inteligente surja de nosso próprio universo porque, por definição, nosso universo deve ser capaz de suportar vida inteligente para que possamos fazer essa observação, não importa quão provável — ou improvável — isso possa ser.note
O Princípio Antrópico se aplica à ficção de forma semelhante: todo universo ficcional tem elementos fundamentais, axiomáticos, sem os quais sua história simplesmente não poderia existir, e o leitor deve aceitar esses elementos para desfrutar da obra. A expressão máxima desse tropo é Física de Minovsky — esses elementos são realmente cuidadosamente planejados com antecedência, garantindo uma transição lógica da vida real para o universo fictício.
Como exemplo hipotético, imagine que um escritor está contando uma história sobre um robô gigante atacando uma cidade. Agora, existem muitas razões pelas quais, na vida real, a ideia de um robô gigante atacando uma cidade é altamente implausível, se não totalmente impossível. No entanto, ficção não é realidade; a história de um robô gigante atacando uma cidade não pode ser contada sem que um robô gigante capaz de atacar uma cidade esteja presente dentro dela, então se o público quiser ouvir essa história, em última análise, eles devem apenas aceitar que essa história se passa em um mundo em que robôs gigantes capazes de atacar cidades são uma coisa que pode existir. O escritor pode ajudá-los com isso - talvez com algum Coisonium Aplicado ou Só Uma Pincelada de Blablablá Tecnológico, ou uma extrapolação intrincadamente pesquisada das tendências atuais em robótica e transmissão de energia, entre outras questões tecnológicas, para oferecer um verniz de plausibilidade — mas isso só pode ir até um certo ponto; em última análise, quando se trata disso, o público deve apenas aceitar que essa história em particular tem um robô gigante bastante improvável que ataca a cidade pela simples razão de que, se não tiver, não há história.
Quando se trata de buscar prazer em obras de ficção, o Mantra MST3K e o Princípio Antrópico são filosofias diametralmente opostas: o primeiro diz que alguns detalhes não precisam fazer sentido porque, em última análise, não importam, enquanto o último diz que certos detalhes da história importam porque eles são a base da própria história, e aceitar esses detalhes com fé é fundamental para o público aproveitar o show, mesmo que não faça muito sentido de um ponto de vista externo. Ambos, no entanto, se vinculam à ideia de que, para desfrutar de uma narrativa ficcional, certas partes dessa narrativa devem simplesmente ser aceitas ou pelo menos toleradas pelo leitor para permitir que a história seja contada.
- Este tropo é surpreendentemente frequentemente desafiado por críticos novatos (e, às vezes, não tão novatos) que revisam adaptações cinematográficas de quadrinhos e Fantasia, quando eles descartam um gênero inteiro em seu parágrafo de abertura, apontando que a própria premissa da história é realisticamente impossível e se baseia em simplificações infantis — e qualquer um que leve essas histórias a sério deve, por definição, ser irresponsável e infantil; veja Reclamando de Shows que Você Não Gosta e Rolo Compressor De Vies.
- Por outro lado, a necessidade de o enredo funcionar "como uma história real" é um problema para os fãs superzelosos que tentam explicar um aspecto da história que requer Pinceladas Largas. Eles podem renunciar a qualquer interpretação literária, focada em personagens, ou outras, colocando consistência rigorosa acima de tudo, quer isso faça uma boa história ou não ; e aplicam padrões semelhantes ao julgar adaptações de filmes, mesmo quando sequer haveria filme se as alterações propostas fossem feitas.
- Às vezes o autor está insatisfeito e se rebela contra a premissa subjacente. Alterações na premissa básica para torná-la "consistente" ou "relevante" (devido a Sindrome De Cerebus ou Interferência Executiva) exigirão um Reboot De Continuidade ou um completo Retool da premissa. Compare Eles Desperdicaram Uma Trama Perfeitamente Boa.
É por isso que Tags De Fanfics precisam emitir avisos sobre Fics Em Universos Alternativos, e por que Fics Com Personagens Transplantados são desprezadas por muitos leitores de Fanfic.
Muitas teorias da Vida Real sobre o Princípio Antrópico se baseiam em noções de O Multiverso e prováveis universos alternativos (que não precisam realmente existir para serem considerados universos alternativos, uma vez que faz pouca diferença prática para o nosso universo e nós nele.) Tais teorias excitam o Crente Devaneiante. Não deve ser confundido com Transficcionalidade, onde o autor cria seu próprio Universo Alternativo imaginando a história.
Este cenário é atualmente o preferido por muitos físicos, já que a Teoria das Cordas (aparentemente) requer a existência de algo como 10500 conjuntos diferentes de leis físicas.note Um argumento similar explica por que nascemos na superfície relativamente agradável de um planeta, e não dentro de uma estrela ou do espaço profundo. (Olhando dessa forma, começa a parecer menos ciência de foguetes e mais como "e daí?")
Em certo sentido, muitas vezes pode-se supor que os eventos retratados, por mais improváveis, ainda estão ocorrendo dentro do reino da probabilidade concebível. Por exemplo, se uma trama começa porque um personagem passa por um evento incrível; mesmo que a probabilidade de tal evento fosse relativamente improvável, pode-se supor que o personagem também experimenta muitos eventos completamente mundanos onde nada de extraordinário acontece, e que esse evento foi simplesmente o motivo pelo qual o episódio foi mostrado aos espectadores (também conhecido como Conservação de Detalhes). Em suma, os eventos retratados não são escolhidos ao acaso a partir de uma amostragem arbitrária de todos os eventos existentes (nem mesmo os personagens, locais, etc.), são simplesmente os eventos considerados interessantes. Eventos improváveis acontecem na vida real, mas não o tempo todo. Improvável não significa Impossível. Se alguém selecionasse apenas os eventos mais interessantes que aconteceram com as pessoas mais interessantes, e escrevesse apenas sobre eles, então mesmo a vida humana normal poderia parecer extraordinária para o leitor. Isso não torna esses eventos menos críveis.
Dessa forma, pode-se até raciocinar que histórias verdadeiramente fantásticas são concebíveis dentro do universo definido. Por exemplo, os super-heróis podem parecer estar continuamente resgatando aqueles em perigo e frustrando esquemas malignos, no entanto, estas podem muito bem não serem ocorrências cotidianas; podem até acontecer semanas de intervalos, com simplesmente nada de interesse ocorrendo no meio e, portanto, esses eventos são os únicos sobre os quais os leitores são informados. Afinal, quem estaria interessado em ver Superman dando uma aliviada?
Compare Regra do Drama, Lei De Chandler, Deficiencia Preservadora De Drama, Doninha Necessaria, Quebras Aceitáveis da Realidade, Mundo Amigavel Para Aventuras. A Lei da Conservação de Detalhes serve como a contrapartida 'Doylista' para a perspectiva 'Watsoniana' deste tropo.
Inverso do Mantra MST3K. A Falacia Da Posicao Inicial é um tropo relacionado onde os personagens da história assumem que são muito mais importantes do que realmente são.
Veja também Apenas Se Livre De Gilligan.
